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A Maldição da pedra

Page history last edited by Adriana Fraga 15 years, 3 months ago

 

    Documentário “A Maldição da Pedra

Gravado no ano de 2003, o documentário “A Maldição da pedra” foi produzido e dirigido por Luiz Daniel Machado de Oliveira, o Rapper Dogg, no município de Alvorada.

Dogg, como é conhecido, nasceu e viveu a maior parte da vida no município de Alvorada, morando em condições precárias.

Ainda na adolescência iniciou sua vida no crime, realizando furtos. Foi engraxate, morador de rua e usou muitas drogas. Neste período foi internado na FEBEM, hoje atual FASE.

Na fase adulta, ficou preso no Presídio Central de Porto Alegre. Depois de muitas entradas e saídas, acabou ficando livre da prisão em 1999. De lá pra cá, se transformou em um lutador das causas dos Direitos Humanos, especialmente aqueles que se encontram atrás das grades em situação de reclusão.

O documentário "A MALDIÇÃO DA PEDRA" no qual sinaliza o poder destrutivo da pedra do Crack entre os jovens das periferias das metrópoles, traz depoimentos de jovens dependentes químicos e de pessoas envolvidas com o trabalho ilícito do tráfico. O filme mostra também a desestruturação das famílias destruídas pelo crack e o desespero de mães que acorrentam seus próprios filhos dentro de casa, buscando evitar que sejam assassinados por traficantes.

 O filme “A MALDIÇÃO DA PEDRA” foi indicado e premiado como MELHOR FILME na categoria Cine Vídeo do Festival de Cinema de Gramado 2008.

Hoje com o PROJETO RAPER DOGG leva até as comunidades, escolas e instituições um pacote constituído pelo filme A MALDIÇÃO DA PEDRA, produzido por RAPER DOGG, uma palestra de conscientização de quem já viveu na pele a dependência química e suas conseqüências, como o cárcere e a dissolução familiar, e uma apresentação musical de RAP.

  TRAILLER:

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   TRANSCRIÇÃO DE UM TRECHO DO DOCUMENTÁRIO: 

Todas as artes da palhaça Minda

 

Minda faz teatro, jogou futebol e agora é atriz. No filme A Maldição da Pedra, de Happer Dogg, exibido no Festival de Gramado do ano passado, é a mãe de um adolescente viciado em crack. Numa das cenas, o menino entra em casa, recolhe o que pode de pacotes de comida da cozinha e vai embora. O alimento é a moeda de troca para que possa se reabastecer da mais avassaladora das drogas, disseminada principalmente entre as populações pobres. A faxineira Minda da Silva Reis, 54 anos, fala do filme ao lado do filho mais novo, John, de 13 anos. O guri presta atenção no que a mãe diz:

- O crack é uma maldição.

Minda mora há 40 anos com a mãe, a doméstica Helena, 75 anos, e três filhos e uma neta no bairro Jardim Stella Maris, em Alvorada, na Grande Porto Alegre. Há pouco, um vizinho traficante, conhecido da família, foi assassinado a tiros bem ali perto. Mas ela acredita que é na volta, em áreas bem mais distantes do Stella Maris, que o tráfico representa uma ameaça.

Sentada diante da casa, ao lado de um guapuruvu que ela plantou há 30 anos, Minda vai contando o que já fez e ainda faz pelos filhos dela e das vizinhas. Teve nove filhos. O primeiro, Carlos Alberto, nasceu quando ela tinha, 18 anos. Admite, meio constrangida, que teve tantos filhos por falta de informação. Mas não há do que se arrepender, ou estaria enjeitando a filharada. Teve vários casos, chegou a morar junto com um moço, nunca casou de papel passado e há muito tempo está sem namorado:

- Falta tempo para namorar. E nos primeiros dias tudo é flor. Mas depois...

A Minda dos cabelos rastafari, que estudou até a 6ª série, é figura conhecida na vila e arredores pela capacidade de se envolver na vida alheia, de congregar, de fazer rir. Enquanto fala, uma vizinha se aproxima e a escuta com admiração. Há 10 anos, a faxineira inventou que, além de cuidar dos filhos, poderia fazer alguma coisa pelas crianças e adolescentes da vizinhança. Queria juntar o gosto pela arte com o desejo de ser solidária. Começou a dar aulas de teatro e de grafite em casa.

Veste-se de palhaço com roupas que ela costura à mão com retalhos recolhidos de doações. Faz apresentações de dança com a gurizada nas escolas e na Creche Ninho do Amor Perfeito. Ajuda voluntários de uma Igreja Evangélica a distribuir comida à noite para moradores de rua.

- Sei o que é a vida na rua e penso que meus filhos nunca passaram necessidade, sempre tiveram uma mistura em casa.

Numa das noites em que saiu a oferecer pão, quase caiu na tentação de adotar uma criança em situação miserável, mas desistiu. Ela e a mãe há muito tempo não dependem dos homens. Dona Helena ficou viúva cedo e criou cinco filhos. Há 40 anos, ganhou de presente dos patrões a casinha onde mora com Minda e os netos. Mesmo aposentada e com 75 anos, decidiu que não iria parar. Acorda cedo e trabalha hoje para os netos do mesmo casal.

Quando morou no Rio, nos anos 70, Minda também foi empregada doméstica de pessoas da mesma família. Morava em Copacabana, num tempo em que a cidade não convivia com tanta violência. Já tinha o filho mais velho, ficou um ano e meio, curtiu um dos pedaços nobres do Rio, mas sentiu saudade da mãe e voltou. Gosta de ver a casa cheia dos filhos dos outros. Põe fitas de vídeo de música na TV e a turma se lambuza cantando e dançando na sala. No Natal, recolhe doações e distribui presentes para crianças da vila. Já foi babá, já jogou futebol na lateral direita do Ajax.

Agora, quer transformar pelo menos uma peça da casa num centro cultural, inspirada na ONG Renascer da Esperança, que a ex-gari Roseli da Silva criou no bairro Restinga, em Porto Alegre, e transformou em referência nacional de iniciativa comunitária de acolhimento às crianças. Mas admite que ainda falta um impulso que a mobilize em busca de reconhecimento do que é capaz de fazer e de apoio.

- Quero começar devagarinho e crescer com o tempo.

Sabe que a arte, do palhaço ao hip hop, tem o poder de tirar a gurizada da rua e de mantê-la ocupada em espaços de convivência na própria vila. E que isso também envolve toda a família de áreas pobres consideradas de risco. Mas sabe também que a maldade não é gerada apenas na periferia exposta aos apelos do tráfico que abastece a classe média. Tem acompanhado pela TV as notícias sobre o caso da menina Isabella, jogada da janela do sexto andar de um prédio de São Paulo. Como está sempre rodeada de crianças, ouve perguntas que responde com desconservas e reticências. Um pai e uma madrasta de gente bem de vida podem mesmo matar uma menina de seis anos?

Minda amamentou oito dos nove filhos. Só John, o mais novo, não teve a regalia. Todos nasceram de parto natural. Cuidou e cuida como pode dos que ainda estão por perto e dos filhos da vizinhança. Fala com orgulho da mãe guerreira com quem até hoje divide a casa e diz, ao lado do guapuruvu que plantou quando tinha 20 e poucos anos:

- Abram alas que eu estou passando.


Fontes:

 

Comments (1)

Beatriz Magdalena said

at 12:00 pm on Jul 1, 2009

Maravilha Adriana. Ficou ótimo
Parabéns!
Um abração
Bea

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